A medicalização da vida foi o tema da primeira roda de conversa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) durante o 5o Congresso Brasileiro de Saúde Mental, na tarde desta quinta (26), em São Paulo.
Carolina Freire, representante do CFP no Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, explicou a diferença entre os termos “medicamento” e “medicalização”. Segundo ela, a discussão proposta não é contrária ao uso do medicamento, mas defende o “cuidado de si” que o supera. Assim, a medicalização relaciona-se à lógica que busca causas orgânicas para problemas de diferentes naturezas e impacta diferentes dimensões da vida, como a educação (a exemplo do uso indiscriminado da ritalina), relações sociais, de trabalho, lazer e saúde (concretizada mais radicalmente na defesa do ato médico).
“Não é um movimento contra a medicina nem a descoberta de novos tratamentos, mas oposto à lógica organicista como modelo e à criação de novos diagnósticos a fim de atender a indústria farmacêutica”, afirmou.
Para Freire, a dinâmica da patologização da vida no âmbito da saúde mental gerou o abandono gradativo da história de vida do paciente, além da progressiva identificação da psiquiatria com a psicofarmacologia. “Houve um aumento de 400% na prescrição de drogas para bipolaridade infantil nos últimos anos, por exemplo”.
Arte como prática não medicalizante
O projeto de reabilitação psicossocial “Re-tratos da rua”, que utiliza a linguagem artística para trabalhar com pessoas atendidas pelos Caps AD e/ou Centro Pop. em Curitiba (PR), foi apresentado pela psicóloga e integrante da Comissão de Saúde Mental do Conselho Municipal de Saúde da capital paranaense Patrícia Folly. Consolidado a partir de um edital do Ministério da Saúde em 2013, o projeto envolve oficinas de fotografia que revelam cenários de vida, paisagens urbanas, memórias e afetos, com vistas à superação da invisibilidade de populações estigmatizadas, fortalecendo o protagonismo, a construção da cidadania e a inserção na economia solidária a partir da criação de uma associação. As fotos já foram exibidas em diversos espaços culturais e integram um livro.
Semíramis Vedovatto, representante do CFP no Conselho Nacional de Saúde, coordenou a roda de conversa e destacou que a proposta da autarquia é trabalhar e sensibilizar para um novo jeito de produzir saúde mental, pensando em um modelo biopsicossocial. “Existem resultados excelentes com ioga, com floral, com meditação. Uma prática não medicalizante, muitas vezes, produz efeito muito melhor do que um remédio que entorpece os sentidos”, defendeu.
Confira o vídeo sobre a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=4CgpbzbFMUg&feature=youtu.be